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Corpos artísticos movimentam produção cultural do Teatro Guaíra há quase sete décadas

Por meio da música, da dança e do teatro, os grupos artísticos do Centro Cultural Teatro Guaíra (CCTG) não apenas preservam e promovem a cultura p...

18/09/2024 às 10h02
Por: Redação Fonte: Secom Paraná
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Foto: Gilson Abreu/AEN
Foto: Gilson Abreu/AEN

Completando 140 anos de história, o Teatro Guaíra é uma verdadeira galáxia em constante movimento. Em seus palcos já passaram estrelas nacionais e internacionais e em sua órbita gravitam os corpos artísticos que compõem sua essência: a Orquestra Sinfônica do Paraná, o Balé Teatro Guaíra, a G2 Companhia de Dança e a Escola de Dança Teatro Guaíra.

Por meio da música, da dança e do teatro, os grupos artísticos do Centro Cultural Teatro Guaíra (CCTG) não apenas preservam e promovem a cultura paranaense, como também desempenham um papel vital na formação de novas gerações de artistas e na democratização do acesso à cultura. Esse constante movimento fez com que o Guaíra se tornasse, mais do que um espaço cultural, uma grande casa de produção artística

Isso porque, se somando aos corpos permanentes, também brilham nesse universo cultural projetos importantes para as artes cênicas, como o Teatro de Comédia do Paraná (TCP) e o Festival Espetacular de Bonecos.

“Essa energia dos bastidores é muito interessante, com grupos de teatro ensaiando, o pessoal da escola, do balé, da G2 e os músicos da Orquestra Sinfônica em um mesmo espaço. Acaba existindo uma sinergia e uma troca de conhecimento muito fortes”, afirma do diretor-presidente do CCTG, Cleverson Cavalheiro. “Essa relação entre artistas, técnicos e produção foi o que tornou o Teatro de Guaíra essa marca de excelência que é reconhecida em todo o Brasil”.

Segundo ele, as aulas práticas realizadas nos estúdios de dança e no próprio palco do Guaíra proporcionam uma imersão total no ambiente teatral, permitindo que os alunos participem ativamente dos bastidores e das produções. Essa vivência foi fundamental para o amadurecimento profissional dos jovens artistas, que tiveram a oportunidade de atuar em grandes espetáculos e colaborar com produções vindas de outras cidades.

Além disso, o intercâmbio constante entre artistas locais, de outros estados e também de diferentes países continua sendo uma marca registrada do Teatro Guaíra, promovendo uma troca de experiências que fortalece a diversidade cultural. “Aqui é um espaço de excelência, reconhecido, amado e respeitado no Brasil todo e internacionalmente”, ressalta Cavalheiro.

ESCOLA DE DANÇA– O primeiro corpo artístico que nasceu no Teatro Guaíra foi a Escola de Dança Teatro Guaíra (EDTG), que desde 1956 forma bailarinos de alto nível em dança clássica e contemporânea. Com 100 alunos em formação, a EDTG oferece aulas gratuitas, mantidas pelo governo estadual.

O grupo de dança EDTG, composto por 15 alunos das turmas mais avançadas, já apresentou espetáculos para milhares de pessoas, como o “Crisálida”, que atraiu neste ano mais de 2 mil espectadores e deve ser encenado novamente em 29 de novembro, na cerimônia de formatura dos alunos da turma de 2024.

A coordenadora da Escola de Dança, Larissa Pansera, destaca a importância da instituição na preservação e difusão da arte da dança. Ela ressalta que a escola é um dos principais centros de formação de bailarinos no Brasil, com uma trajetória marcada por produções originais e participação em importantes festivais

“A EDTG tem como princípio que a dança é para todos e trabalha para garantir que os programas sejam inclusivos e acessíveis, transformando a paixão em arte”, destaca.

BALÉ TEATRO GUAÍRA– A implantação da Escola de Dança abriu caminho para a criação do primeiro corpo de baile do Teatro Guaíra, Balé Teatro Guaíra (BTG), que está na ativa desde maio de 1969. Atualmente, o grupo conta com 30 integrantes, que apresentam grandes espetáculos de dança contemporânea que são levados não apenas aos auditórios da casa, como também circulam pelo Brasil e pelo mundo. No mês passado, o espetáculo “Contraponto” foi uma das atrações de um festival de dança na Dinamarca .

O diretor do Balé Teatro Guaíra, Luiz Fernando Bongiovanni, destaca a rotina prolífica de produções da companhia, que tem conseguido fechar até seis temporadas de espetáculos por ano. “Essa rotina de produções é um grande feito, que só tem paralelo às companhias internacionais mais famosas do mundo”, diz.

Há mais de 50 anos, o grupo se destaca como uma das mais antigas companhias de dança do Brasil. O BTG é reconhecido por suas produções inovadoras e impactantes, como a montagem de Gisele (1976), que consagrou Ana Botafogo

Outro nome importante é o do coreógrafo português Carlos Trincheiras, que criou os bailados de Lendas das Cataratas do Iguaçu (1987), apresentado em frente às Cataratas para um público de 1.500 pessoas, e o marcante “O Grande Circo Místico” (1983), com músicas originais de Chico Buarque e Edu Lobo feitas especialmente para o balé.

A companhia também foi pioneira em inovações técnicas, como na produção de “O Segundo Sopro” (1999), que sob direção de Suzana Braga foi a primeira montagem nacional que fez chover no palco, graças a uma tecnologia criada e aperfeiçoada ao longo dos anos pelos técnicos do CCTG. O espetáculo foi a coreografia mais dançada pelo BTG, com cerca de 300 apresentações.

G2 COMPANHIA DE DANÇA– Alguns bailarinos que participaram dessas montagens icônicas hoje integram a G2 Companhia de Dança, grupo sênior do Teatro Guaíra que se dedica a explorar a maturidade artística em espetáculos que abordam temas universais e a riqueza da experiência humana.

Criada em 1999, é a companhia sênior mais longeva em atividade e a única pública em atuação no País. Foi premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) por seu trabalho inovador e multifacetado e tem como diferencial o foco na pesquisa em dança e na experimentação.

“A G2 tem um trabalho diferente. A partir do estilo de cada dançarino, é feita uma pesquisa e cada um traz movimentos mais orgânicos, compatíveis com o tema que será tratado em cada espetáculo” explica o bailarino Grazianni Canalli, que começou a carreira aos 19 anos no Balé Teatro Guaíra e hoje, aos 62, é um dos integrantes da G2.

ORQUESTRA SINFÔNICA– Em 2025, a Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) celebrará 40 anos de história como a primeira e maior orquestra pública do Estado. Fundada em 1985, a OSP tem como missão democratizar o acesso à música clássica, realizando concertos com valores acessíveis e colaborando com outros corpos artísticos do Teatro Guaíra.

Com 71 músicos em sua formação atual, a OSP já realizou mais de mil apresentações, abrangendo um repertório de cerca de 900 obras de 250 compositores, incluindo Heitor Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e paranaenses como Henrique Morozowicz.

A orquestra também é lembrada por sua participação em montagens conjuntas com o Balé Teatro Guaíra, como as de “O Quebra-Nozes” e “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky, além de óperas como “Carmen”, “La Traviata”, “Fausto e Aída”.

O primeiro maestro titular foi o curitibano Alceo Bocchino, considerado, ao lado de Villa-Lobos, um dos principais nomes da música clássica brasileira. Bocchino participou da criação da OSP, em 1985, e teve o paulista Osvaldo Colarusso como maestro auxiliar. Depois foram também regentes da orquestra os maestros Jamil Maluf, Alessandro Sangiorgi, Osvaldo Ferreira, Stefan Geiger e Roberto Duarte.

O atual regente é Roberto Tibiriçá, titular da cadeira de número 5 da Academia Brasileira de Música. “A Orquestra Sinfônica do Paraná está entre as melhores orquestras do país e me sinto honrado por estar regendo a orquestra neste momento em que o Teatro Guaíra completa 140 anos”, afirma Tibiriçá.

O maestro explica que os ensaios sempre acontecem no palco do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, onde normalmente a orquestra faz suas apresentações. Esse diferencial, diz ele, facilita o trabalho dos músicos, que pela questão da acústica podem saber de antemão como será a sonoridade no momento da apresentação.

Foto: Reprodução/Secom Paraná
Foto: Reprodução/Secom Paraná

Foto: Gilson Abreu/AEN


PROJETOS PARALELOS– Além dos corpos artísticos estáveis, o universo do Teatro Guaíra também abriga projetos paralelos que já se tornaram marcas da instituição, como o Festival Espetacular de Bonecos e o Teatro de Comédia do Paraná (TCP).

O Festival Espetacular de Bonecos é realizado por meio de uma parceria com a Secretaria de Estado da Cultura. Desde 1991, O CCTG organiza o evento que está entre os mais importantes do País na arte bonequeira e, a partir de 1995, se tornou um festival internacional. O evento chega em sua 24ª edição em novembro.

Um dos idealizadores do festival, o ator e bonequeiro Manoel Kobachuk (1944-2023), foi um dos primeiros integrantes do Teatro de Comédia do Paraná (TCP), outro importante projeto do Teatro Guaíra. E o próprio TCP é fruto de outro trabalho que nasceu nos bastidores do Guaíra.

Em 1963, 11 anos após a inauguração do Guairinha, foi criado o Curso Permanente de Teatro (CPT), por iniciativa do professor Armando Maranhão em parceria com Pascoal Carlos Magno, marcando o início de uma fase prolífica de formação na arte cênica. A partir desse trabalho, foi criado então o TCP, que movimentou a cena teatral curitibana em plena Ditadura Militar, sendo responsável pela formação de diversos atores e técnicos cênicos brasileiros, com cerca de 1,5 mil artistas participando de suas 74 produções.

O grupo trouxe grandes espetáculos de importantes nomes da dramaturgia, possibilitando montagens de clássicos de dramaturgos como Henrik Ibsen, Bertolt Brecht, Anton Tchekhov e William Shakespeare. As atividades teatrais no Guaíra foram estendidas ainda a outras áreas, com a criação do Festival de Bonecos e do Festival Nacional de Teatro para Criança.

No currículo do TCP estão peças marcantes, como a primeira encenada pelo grupo, “Um Elefante no Caos”, de Millôr Fernandes, além de “A Megera Domada” e “Paraná, Terra de Todas as Gentes”, que em 1974 abriu pela primeira vez as cortinas do Grande Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, o Guairão.

O TCP atuou até os anos 2000, chegando a produzir até cinco espetáculos em apenas um ano. Após ficar um tempo inativo, foi retomado em 2016, com apresentação das peças “O Homem Desconfortável”, “Hoje é Dia de Rock”, indicada ao prêmio Botequim Cultural nas categorias de melhor direção e figurino, e “Papéis de Maria Dias”.

Um novo edital do projeto foi aberto em 2019, mas a peça não chegou a ser encenada por causa da pandemia de Covid-19. A retomada, porém, já tem previsão de estreia. Atores e atrizes podem se inscrever no edital para participar da próxima montagem do TCP, que será dirigida pela atriz e produtora Nena Inoue e vai homenagear os 100 anos de Dalton Trevisan, um dos principais contistas do Brasil.

Para o diretor Artístico do Centro Cultural Teatro Guaíra, Áldice Lopes, uma das características do TCP foi manter uma tradição de excelência, com montagens que exploram temas contemporâneos e universais.

Além da montagem prevista para estrear em 2025, também será lançado o livro escrito pelo jornalista Alvaro Collaço, que faz um resgate histórico da memória do TCP contando um pouco da trajetória dos 60 anos do Teatro de Comédia do Paraná. “É um livro para fazedores do teatro e que traz mais de 70 espetáculos que foram produzidos pelo Teatro Guaíra”, diz Lopes.

UM UNIVERSO EM EXPANSÃO– Neste universo de produções e de trabalhos realizados ao longo dos anos, o Teatro Guaíra se firmou como um verdadeiro celeiro de produção artística e cultural. A formação dos corpos estáveis serviu como um estímulo para a criação de cursos universitários e de formação técnica de artistas, técnicos e produtores. “Atrás do palco, nos bastidores, funciona como uma cidade, um espetáculo não coreografado. Aqui é tão fascinante quanto no palco”, comenta Lopes.

O teatro é também um centro de atração de artistas de outras áreas, com a cenografia trazendo luz às artes plásticas e à arquitetura, e a beleza dos figurinos que são feitos a mão por costureiras habilidosas.

Um exemplo desse intercâmbio foi primeira montagem de “A Megera Domada”, em 1964, que contou com um elenco de 48 atores. “Foi aberto um edital para a criação do cartaz e quem ganhou foi o Ziraldo, que já era um nome importante em 1964. Os cenários foram pintados por Juarez Machado, outro artista de renome. Então o Guaíra foi responsável por fazer fervilhar um movimento muito grande de teatro e da arte de um modo geral”, salienta Lopes.

A história do Guaíra revela não só a importância do espaço na formação de profissionais das artes, mas também o papel de destaque que ele desempenhou no cenário cultural brasileiro. Entre as figuras que surgiram no teatro, estão nomes como Ary Fontoura, Glauco Flores de Sá Brito, Odelair Rodrigues, René Ariel Dotti e Nitis Jacon, que começou sua carreira no teatro experimental do Guaíra e depois fundou o Festival Internacional de Londrina (Filo), um dos mais antigos festivais de teatro da América Latina.

Até hoje, seus auditórios continuam sendo utilizados por estudantes de diversos grupos artísticos e de instituições educacionais para apresentações e aulas práticas, mantendo viva a tradição formadora do teatro, além de impulsionar o movimento contínuo neste universo que é o Centro Cultural Teatro Guaíra.

Confira o vídeo:

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