Quando Ibaiti já estava em processo de emancipação, Júlio Farah encaminhou um telegrama ao governador Moisés Lupion solicitando a inclusão do distrito de Figueira e a região carbonífera ao novo município de Ibaiti. O pedido tinha respaldo da população, correntes políticas e militantes de Ibaiti e Figueira. O pedido também foi encaminhado aos deputados Avelino Vieira e Rivadávia Vargas.
Representantes do distrito de Figueira já haviam encaminhado ao Governo do Estado vários documentos manifestando interesse em fazer parte do município de Ibaiti. A proximidade dos povoados, a fácil comunicação e outros interesses econômicos eram justificativas para que os figueirenses fizessem parte do novo município de Ibaiti.
Emancipado no mesmo ano, o município de Curiúva acabou anexando em sua área, o distrito de Figueira e as terras carboníferas.
O distrito de Figueira só viria a se tornar município no ano de 1982.
Em 1954, através da Lei 1542 de 14 de dezembro foi criada a Comarca de Ibaiti. A instalação se deu no dia 9 de junho do mesmo ano. O primeiro juiz foi Alceu Conceição Machado. O primeiro fórum foi instalado em um imóvel na Rua Rui Barbosa e em janeiro de 1968 foi inaugurado o novo edifício na Praça dos Três Poderes.
Cópia da ata de instalação da Comarca se encontra em exposição no Museu Histórico de Ibaiti. O original está arquivado no fórum.
O nome Ibaiti foi criado em 1943, quatro anos antes da emancipação político-administrativa. A idéia era já ter o nome do futuro município registrado em documento, uma vez que a lei na época, proibia ter dois municípios com o mesmo nome. Barra Bonita já era o nome de um próspero município no interior de São Paulo.
Pensou-se no início em dar ao distrito o nome de Barra Porã, projeto descartado pela maioria. O nome não agradou. Ficou então Ibaiti, nome indígena, porém com etnia não definida. Alguns dizem que significa "Água da Pedra". No dicionário Tupy Guarani, o significado de pedra é “Itá” e água é “Y” ou “TY” (rio). Portanto, água da pedra seria “Itay” ou “Yitá”, ou até mesmo “Itaty”. O “Y” tem som de “an”. Dizem que os primeiros povos a habitar a região foram os índios Kaingang. Eles falavam a língua Kaingang. Porém a palavra água em Kaingang significa “GOI” ou “GOIO” (rio).
Em 1947, no dia 12 de junho, cinco meses antes da publicação da Lei Estadual número 02, assinada pelo governador Moysés Lupion, publicada no Diário Oficial nº 205 tornando Ibaiti município, Júlio Farah, um dos políticos que incansavelmente buscava a emancipação e que viria a se tornar o primeiro prefeito de Ibaiti, escreveu uma carta ao deputado José Alves Bacelar. O documento, que até então era de fórum íntimo, foi trazido a público através do jornal O Norte Pioneiro do jornalista Leonel Júlio Farah em fevereiro de 1968 na coluna “Retrospecto” de autoria de João Farah.
“Distinto correligionário, sem ter ainda a elevada honra de conhecê-lo a não ser através da sua brilhante atuação no Parlamento Estadual, tomo a liberdade de vir à sua grata presença, por sugestão do nosso comum amigo Dr. Djalma Lopes, por intermédio do qual o nobre deputado me fez o muito gentil e honroso oferecimento dos seus valiosíssimos préstimos em prol da criação deste município.
Fornecendo ao nobre correligionário os dados referentes a Ibaiti, os quais a meu ver justificam a pleiteada emancipação administrativa deste distrito, consigno-lhe antecipadamente a profunda gratidão dos ibaitienses, pelo trabalho que desenvolve em favor deste pedacinho do Paraná.
A autonomia é para Ibaiti uma questão de vida ou morte. Este distrito pode contribuir apreciavelmente para a grandeza econômica do Paraná, porque o seu potencial de riquezas inaproveitadas é inestimável.
Nas condições atuais, porém, nada lhe será possível, pois, desgraçadamente, a administração municipal sediada em Tomazina tem-se mantido acéfala desde a saída do Sr. Avelino Vieira que inegavelmente foi um grande prefeito.
Pelos documentos que tenho a honra de anexar, verá Vossa Excelência, como dado de grande importância, que Ibaiti contribui para o erário municipal com quase a metade da renda total do município, e essa contribuição poderia ser grandemente aumentada sem elevação de impostos, se o sistema de arrecadação não fosse tão falho como é.
Este distrito precisa de autonomia administrativa porque não possui estradas e nem qualquer melhoramento proporcionado pela administração municipal, que aplica aqui somente 28% da renda aqui arrecadada.
Imagine o deputado que o comércio de Ibaiti é o maior abastecedor dos povoados de Euzébio de Oliveira, Figueira e das minas de carvão do vale do Rio do Peixe. É com Ibaiti que aquela riquíssima região mantém intercâmbio e o seu mais íntimo contato, e não há uma só estrada de rodagem ligando Ibaiti àquela região.
A nossa única saída para o “limpo” é a péssima estrada que vem de Tomazina e que está quase interrompida por uma ponte sobre o rio Pinhalão, que ameaça ruir a todo momento.
Reiterando ao nobre correligionário os meus mais sinceros agradecimentos, despeço-me de Vossa Excelência, augurando-lhe muitas felicidades.
O correligionário e admirador, Júlio Farah”.
Em 09 de dezembro de 1953, Júlio Farah publicou um documento intitulado “Uma satisfação aos ibaitienses”. Em formato tabloide de quatro páginas, o primeiro prefeito constitucional faz esclarecimentos da sua gestão frente à Prefeitura de Ibaiti entre os anos de 1947 a 1951. Júlio Farah cita no documento, assuntos como as terras doadas para a criação do município, o desmembramento do município em relação aos distritos de Vila Guai e Vassoural e as finanças da administração.
Uma cópia do documento integra o acervo do Museu Histórico de Ibaiti. Em um texto do documento, o primeiro prefeito fala sobre o Departamento de Estradas de Rodagem. “Poucos dias antes de terminar o meu mandato, recebi do DER a importância de 400 mil cruzeiros (e nenhum centavo a mais), a título de compensação ao município pela construção da estrada “Norte-Sul”, custeada por este. O sr. Governador Munhoz da Rocha visitou essa estrada, percorrendo-a de ponta a ponta. Vindo de Santo Antônio da Platina, S. Excia, entrou em Ribeirão do Pinhal, passou por Ibaiti e através a serra do Caratuva e os campos de Ventania, foi sair no km 206 da estrada do Cerne.
Estava S. Excia acompanhado dos senhores doutores Felizardo Gomes da Costa e roberto Barrozo, então secretários da Fazenda e do Interior respectivamente; do coronel Luiz Carlos Tourinho, diretor do DER; do coronel Euclides do Valle e tenente coronel Raposo Neto, chefe e sub chefe da Casa Militar e de muitas outras pessoas graduadas.
Logo depois dessa visita, o senhor governador Munhoz da Rocha mandou pagar a Prefeitura de Ibaiti aqueles 400 mil cruzeiros por considerar de justiça que o Estado cooperasse num empreendimento vultuoso, que interessava a toda uma vasta região. Como, porém, o pagamento dependesse de autorização legislativa e a Assembléia se encontrasse, na ocasião, em férias, a fórmula encontrada pelo senhor governador para a solução do impasse, foi de firmar o prefeito um recibo “de adiantamento” por conta das cotas futuras do fundo rodoviário; na ocasião oportuna o governador mandaria a Assembléia a mensagem propondo o auxílio de 400 mil cruzeiros — e esse auxílio, uma vez aprovado, seria creditado ao município, liberando-se, assim. O fundo rodoviário empenhado apenas “pro-forma” ....
Júlio Farah, nasceu em Paranaguá em 1915. Iniciou seus estudos na cidade de Ponta Grosa depois em São Paulo entre 1924 a 1930.
Formou-se em Direito na cidade de Curitiba. Entre tantas obras, durante sua gestão abriu as estradas do Caratuva, Ribeirão do Pinhal e retificou a estrada de Euzébio de Oliveira. Conseguiu para o município a doação de parte das terras circunvizinhas à cidade de Ibaiti que pertenciam ao Governo Federal. Este projeto feito por ele e apresentado ao Senado Federal pelo senador Artur Santos foi um grande incentivo para o progresso da cidade. Foi eleito deputado estadual do Paraná. Apresentou um projeto de Lei criando o 16º Distrito Rodoviário de Ibaiti, projeto aprovado pela Assembléia Legislativa do Paraná. Também foi prefeito do município de Ribeirão do Pinhal (1960-1961), secretário do Interior e Justiça do Estado e juiz substituto do Tribunal de Contas do Estado do Paraná.
Júlio Farah foi um obstinado pela luta da emancipação político-administrativa de Ibaiti. “A autonomia é para Ibaiti uma questão de vida ou morte”. Durante os anos que lutou pela criação do município, produziu muitos documentos. Recortes de jornais, cópias de ofícios, requerimentos e cartas aos seus amigos e parentes foram guardados pela família. O ofício acima é um desses documentos que foi publicado, pela primeira vez, 21 anos após a criação do município. Segundo o filho João Farah, fazia parte do “Diário Confidencial” de Júlio Farah. Segundo ele, em toda documentação deixada pelo pai, não existe um só escrito que não fale sobre Ibaiti e que não trate o problema da terra que ele tanto amou.
Júlio Farah faleceu no dia 28 de setembro de 1965, em Curitiba, vítima de um desastre aéreo quando voltava de Ribeirão do Pinhal.
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